Do G1 - A Polícia Civil concluiu o inquérito policial que apura a morte da jovem de 18 anos atingida por um tiro disparado pelo próprio irmão policial, em Botucatu (SP), no dia 16 de junho. O documento foi enviado ao Fórum da cidade.Maria Vitória Carmello morreu depois de ser atingida no pescoço por um disparo da arma de fogo. Segundo o boletim de ocorrência, o disparo ocorreu enquanto seu irmão, Leonardo Matheus Carmello, de 28 anos, manuseava a pistola perto dela.

 

Segundo o delegado responsável pelo caso, Lourenço Talamonte, o laudo necroscópico também foi emitido e confirmou que o tiro foi acidental. O resultado mostra que a bala atingiu o pescoço e perfurou o pulmão de Maria Vitória, que teve hemorragia interna.

Ainda de acordo com o delegado, o processo administrativo que avalia a possível exoneração do cargo de Leonardo, que estava em estágio probatório na Polícia Civil, decidiu pelo seu afastamento preventivo. O processo deve ser concluído em paralelo com a decisão da Justiça.

 

Leonardo foi preso em flagrante por homicídio, mas solto no dia 17, após passar por audiência de custódia. Ele vai responder pelo homicídio em liberdade.

Homenagem

O irmão mais velho de Maria Vitória criou uma campanha nas redes sociais para chamar a atenção do Coldplay, banda da qual a jovem era fã.

A publicação, feita no dia 25 de junho, dia em que postou uma homenagem para a irmã, já acumulava 345 compartilhamentos, quase 2 mil curtidas e quase 3 mil comentários até o fim da tarde de segunda-feira (18).

Segundo Davi Aria, de 37 anos, Maria Vitória era fã da banda. Inclusive, um dia antes do ocorrido, a jovem havia confessado alguns desejos ao irmão e um deles era ir a um show do Coldplay.

"Deixamos algumas coisas combinadas. Se fosse o último dia dela, ela gostaria de ir ao show do Coldplay, e depois viajar pelo mundo, conhecendo o máximo de lugares que ela pudesse, junto da família", relembra.

 

Irmão mais velho de jovem que morreu com tiro acidental movimenta web com campanha

Irmão mais velho de jovem que morreu com tiro acidental movimenta web com campanha
 

Há duas semanas, Davi fez um vídeo acordando Maria Vitória para uma surpresa. Depois de cinco tentativas falhas de comprar o ingresso para assistir ao show do Coldplay, o irmão mais velho conseguiu na sexta chance e a presenteou.

#Vivinocoldplay foi a hashtag criada por ele para tentar chamar a atenção dos músicos e levar a foto de Maria Vitória aos telões do show da banda, no dia 22 de outubro deste ano, em São Paulo (SP).

"Quero jogar toda a energia da multidão do estádio para, quem sabe, chamar a atenção dela de onde estiver, e sentir lá do paraíso todo o nosso amor por ela. E ainda eu quero sentir ela me dizendo: 'não acredito que o Coldplay está falando comigo e toda essa iluminação está sendo para mim! Meu Deus! Obrigada, Dada!'", diz emocionado.Irmão mais velho de jovem que morreu com tiro acidental em Botucatu publica homenagem nas redes sociais — Foto: Reprodução/Facebook

Irmão mais velho de jovem que morreu com tiro acidental em Botucatu publica homenagem nas redes sociais — Foto: Reprodução/Facebook

Além deste desejo, Davi pontuou que Maria Vitória falou em cremação caso morresse antes do irmão. Afinal, um dos pedidos dela seria plantar as cinzas junto a uma árvore para que pudesse ser livre para sempre. E assim foi feito. Davi cumpriu a promessa e Maria Vitória foi cremada no dia 21 de junho.

Maria Vitória morreu no dia 16 de junho depois de ser atingida no pescoço por um tiro de arma de fogo disparado pelo irmão do meio, que é policial civil.

Segundo o boletim de ocorrência, o disparo ocorreu enquanto Leonardo Matheus Carmello, de 28 anos, manuseava a pistola (relembre o caso mais abaixo).

Relação com a família

 

"Nos preocupamos um com o outro em cada detalhe, a maneira como agimos na vida, com as pessoas, saber a cada hora onde um ou outra está quando sai de casa, preocupação com o que comeu ou deixou de comer, se está triste, saber o porquê, conversar e etc. Uma relação muito forte e cuidadosa".

É assim que Davi define a relação que cultivava com Maria Vitória. Da mesma forma, a relação da jovem com Leonardo, autor do disparo acidental, era profunda, como se os dois fossem pai e filha.Maria Vitória Carmello, de 18 anos, e familiares — Foto: Reprodução/Facebook

Maria Vitória Carmello, de 18 anos, e familiares — Foto: Reprodução/Facebook

"É inexplicável o sentimento dele com tudo isso, mas o mais importante é que ele vai compreender que isso foi um acidente e que toda a família e amigos estão amparando. Se ela pudesse, diria de onde está: 'fique em paz, Leleco, está tudo bem! Eu te amo!'", comenta.

Exoneração do cargo

 

Segundo o delegado responsável pelo caso, Loureço Talamonte, esse procedimento é protocolo da corporação, principalmente em casos de agentes em estágio probatório, como o de Leonardo.

Conforme explicou o delegado, o policial começou o estágio em janeiro deste ano e deveria concluí-lo em três anos. Para isso, não poderia cometer infrações graves, tanto no âmbito profissional quanto no âmbito pessoal.

Ainda segundo o delegado, como Leonardo atuava como agente de papiloscopia (servidor que analisa digitais humanas deixadas em locais de crime), ele deveria saber que não poderia ter mexido na cena do ocorrido.

Ao contrário do que se esperava, o policial civil limpou, junto com parentes da vítima, o sangue que atingiu uma das paredes da cozinha onde ocorreu o disparo acidental. Este fato deve ser incluído, segundo o delegado, na investigação para conclusão do processo administrativo.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) confirmou, em nota enviada na última quinta-feira (23), que instaurou o procedimento e que vai apurar a conduta do policial. O processo será concluído paralelamente ao inquérito policial.

Porte de arma

 

Leonardo afirmou em interrogatório à Polícia Civil que nunca havia manuseado a arma envolvida no acidente.

O policial civil, que teve o porte de arma suspenso após o ocorrido, contou à polícia que havia comprado a pistola Glock 9 mm apenas duas semanas antes e decidiu manuseá-la durante um churrasco em família, no dia 16 de junho.

No interrogatório, Leonardo contou que, em um determinado momento, percebeu que o ferrolho da arma enroscou e pediu à irmã para filmar com o celular o procedimento de destravamento.

Segundo ele disse à polícia, como era a primeira vez que manuseava a arma, a ideia era enviar o vídeo ao seu professor de armamento e tiro da Academia de Polícia Civil.

Leonardo contou que retirou o carregador, mas afirmou "não se lembrar" se verificou a existência de uma bala na câmara. Como esse tipo de pistola exige o acionamento do primeiro estágio do gatilho para desmonte da arma, ele acredita que nesse momento houve o disparo que atingiu a irmã.

No interrogatório, o policial civil ainda admitiu que estava sob efeito de bebida alcoólica no momento do disparo. Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) também já havia indicado a ingestão de álcool.

 

Por causa disso, o delegado afirmou que Leonardo está sendo investigado por homicídio doloso (dolo eventual), mesmo que o disparo tenha sido acidental, já que ele assumiu o risco de mexer em uma arma perto da irmã.

O autor do disparo foi preso em flagrante, mas solto no dia 17, após passar por audiência de custódia para responder em liberdade. Na sentença, a Justiça determinou a suspensão do porte de arma e a comunicação do fato à Corregedoria de Polícia Civil.

Ao g1, a defesa de Leonardo afirmou que a concessão da liberdade provisória ao jovem indica que não houve "intenção nenhuma de criar essa fatalidade, inclusive com a irmã, que era muito querida por ele".

"A família é muito unida e está passando por um momento de dor. Esperamos com serenidade os andamentos processuais para esclarecer todos os fatos. Em nenhum momento Leonardo se furtou de apresentar os esclarecimentos necessários", disse a defesa.