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Nego do Borel lançou o clipe "Me solta", na última segunda-feira, e vem dividindo opiniões na internet. No vídeo, o cantor interpreta a personagem Nega da Borelli que, vestida com roupas femininas, beija um ator com quem dançava. A ousadia do funkeiro despertou elogios de celebridades e fez surgir questionamentos da comunidade LGBT sobre representatividade, reforço de estereótipos e misoginia.

Gravado em junho no Morro do Borel, onde o artista nasceu e foi criado, o clipe ganhou elogios de famosos como Sabrina Sato, Dado Dolabella, Psirico, Bruno Gissoni, Kevinho e Aline Riscado:

"Acabei de ver inteiro no Youtube. Maravilhoso", disse a apresentadora. Dolabella fez piada com a personagem interpretada por Nego do Borel: "Solta a Nega, por***"".

A banda Psirico escreveu: "Me solta, por***. KKK. Irmão, você é pi** demais. Que maluco fod**. Fotografia, cenário, luz, beijão, sua roupa...E a música é hit. Brocou tudo".

Bruno Gagliasso enviou uma mensagem para o WhatsApp de Nego do Borel, que compartilhou o elogio em seu Instagram. "Acabei de ver o clipe, irmão. Arrasou. Parabéns. Você merece o sucesso", disse o ator.

Modelo beijado por Nego do Borel, Jonathan Dobal opinou que a troca de carinho encenada no vídeo se trata de "quebra de paradigmas".

Victor Sarro, humorista e amigo de Nego do Borel, entrou em discussões na página do cantor ao defendê-lo: "O cara vai fazer com a boca dele o que quer, po**! Vocês beijam gente bem mais feia e ninguém fala nada. Hahaha. Vão dormir".

O comentário de Matheus Carrilho, cantor assumidamente gay e parceiro de Pabllo Vittar na música "Corpo sensual", fez o nome do artista ser um dos mais citados no Twitter na manhã desta terça-feira. Carrilho defendeu a iniciativa de Nego do Borel e despertou críticas de parte da comunidade LGBT. A polêmica se deu após viralizarem na rede social imagens de Nego do Borel ao lado do deputado federal Jair Bolsonaro.

O rapper Rico Dalasam, também integrante da comunidade gay, relativizou a iniciativa de Nego do Borel, e definiu a encenação como "idiotização": "Que o Nego do Borel faça o que ele quiser com a cara dele, mas que a idiotização a qual ele se presta não venha atravessar as verdades construídas diariamente por tanta gente, visíveis e invisíveis!".

Alguns youtubers com canais pelo movimento LGBT argumentam que Nego do Borel apostou na ousadia apenas para chamar atenção. O publicitário e youtuber baiano Spartakus Santiago compartilhou um texto crítico ao fato de o cantor usar a personagem homossexual para fazer "piada":

"A bicha preta afeminada sempre foi motivo de piada. Se vestir de bicha preta e fazer mais piada ainda não é representatividade e nem empoderamento. Empoderamento é colocar quem sempre foi silenciado numa situação de poder. De respeito. Empoderamento é ver Liniker e Linn da Quebrada fazendo turnê pela Europa. Não é ver hétero apoiador de candidato homofóbico se fantasiando de bicha preta pra lucrar com pink money. Isso só empodera seu direito de rir da gente".

O militante gay e negro Murilo Araújo classificou o clipe como misógino:
'Eu até concordaria com a ideia de que Nego do Borel tá atrás de pink money se ele ainda tivesse pagando de aliado progressista desconstruído nesse vídeo mas nem isso ele tá só de deboche com a nossa cara mesmo é homofóbico e é misógino'

Na madrugada desta terça-feira, Nego do Borel comemorou os 22 anos e o lançamento de "Me solta" com uma festa na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. A assessoria de imprensa de Nego do Borel afirma que o artista vai comentar, em breve, sobre a repercussão do clipe. O vídeo, publicado pelo canal Kondzilla, teve mais de 3 milhões de visualizações em menos de 15 horas de publicação.