O casal Ângela Fagundes, de 63 anos, e Jesse Rodrigues da Silva, 38, de Eldorado do Sul (RS) viajou mais de 1.325 km para encontrar abrigo em Bauru, após a casa onde moravam ter sido inundada pelas enchentes que atingiram o estado gaúcho neste mês de maio.

Em meio à destruição do lar, a aposentada e o autônomo tentam um recomeço ao lado da família, na casa da filha de Ângela, no Parque Jaraguá, em Bauru. A saga do casal começou no dia 2 de maio, quando os dois acordaram e viram a água invadir a residência deles e bater em suas canelas.

De "origem simples", os dois decidiram permanecer no local e acreditavam que o volume de água iria abaixar. No entanto, após retornarem do trabalho naquele dia, encontraram um cenário inundado de tristeza, com a água já a mais de um metro de altura.

"Foi uma coisa muito feia mesmo, porque não tinha água e, minutos depois, já estava cheia a casa. Perdi tudo. Eu nunca esperava passar por isso, uma coisa do outro mundo", revela Ângela.

 

Diante da inundação que tomava o lar da família, a dupla teve pouco tempo para reagir. Eles recolheram algumas roupas, subiram alguns móveis e eletrodomésticos e partiram sem rumo.

"Eu não queria sair da minha casa, eu queria ficar lá. Foi o meu marido que me tirou. Não queria perder nada que eu lutei tanto para ter. Se não fosse ele, eu não tinha saído", conta a aposentada.

Enquanto ainda buscava entender o cenário da tragédia, o casal partiu para um abrigo, onde conseguiu se alimentar e dormir por uma noite.

Com família em Bauru, Ângela decidiu enfrentar mais de 16 horas de viagem até chegar ao interior de SP. Antes, eles pararam em Florianópolis (SC) e, de lá, foram para Campinas (SP). Por fim, chegaram ao centro-oeste de SP.

"Fomos de carona até Florianópolis, porque não tinha ônibus. Lá, a gente conseguiu um ônibus para Campinas, onde minha filha nos buscou", diz Ângela.

Na bagagem, poucas roupas e muitas memórias de casa. Dentre as coisas que ficaram, o casal revela que não conseguiu trazer consigo o pet da família. Por sorte, ele foi acolhido por vizinhos e foi salvo após ficar preso no telhado da residência dos dois.

"Muito triste, mas ninguém esperava que tudo isso ia acontecer. Mas já me falaram que ele está bem e não vejo a hora de encontrá-lo", conta.

Enquanto o reencontro com tudo aquilo que conheciam não vem, resta ao casal a busca pelo recomeço a mais de mil quilômetros da casa que chamavam de sua.

O cálculo do estrago causado pelas enchentes ainda não é estimado, mas a certeza de terem sobrevivido à maior tragédia da história do Rio Grande do Sul mantém viva a esperança de dias melhores para Ângela e Jesse. "Eu tenho fé que as coisas vão melhorar", sentencia Jesse.

Reconstrução

Na sexta-feira (17), o Rio Grande do Sul chegou a 154 mortes em razão dos temporais. O governo do estado anunciou o pagamento de R$ 2,5 mil para famílias na faixa da extrema pobreza, além de um plano de reconstrução de cidades afetadas pela tragédia.

Cerca de sete mil famílias já tiveram o dinheiro depositado, segundo o governo. Elas estão desabrigadas e já têm o cadastro efetuado junto a prefeituras. Além disso, outras 40 mil famílias receberão o benefício até 24 de maio.

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