No recém-lançado “O bom da idade” (Objetiva), o neurocientista Daniel Levitin é categórico: o raciocínio abstrato e a inteligência prática aumentam com o passar dos anos. Logo na introdução, reconhece que, quando jovem, achava que a velhice era sinônimo de debilidade e declínio. No entanto, à medida que envelhecia e convivia com pessoas idosas – agora é um sexagenário e seus pais, na faixa dos 85 anos, esbanjam vitalidade – mudou completamente de ideia.

“Quando algumas faculdades ficam mais lentas, entram em ação mecanismos extraordinários de compensação – mudanças positivas de disposição, acompanhadas pelas vantagens excepcionais da experiência”, escreve.

Levitin viu o avô ser afastado de suas funções no hospital onde trabalhava porque tinha completado 65 anos (acabou morrendo aos 67). Seu pai também foi incentivado a deixar a empresa da qual era dono aos 62 anos, para abrir caminho para alguém mais jovem. Como consequência, entrou em depressão. Dois exemplos tão próximos de vítimas de etarismo podem ter pesado quando pensou no livro, que é do tipo “vale quanto pesa”. Ao longo de suas mais de 500 páginas, faz um raio-X do processo de envelhecimento e explica:

 “O principal fator isolado para o envelhecimento saudável é o traço de personalidade da conscienciosidade. As pessoas conscienciosas são mais capazes de ter um médico de confiança e se consultar quando estão doentes. São mais capazes de fazer check-ups com regularidade e cumprir seus compromissos profissionais, familiares e financeiros. Pode parecer uma questão essencialmente prática, mas esses traços guardam íntima relação com uma ampla variedade de resultados positivos na vida, entre eles a longevidade, o sucesso e a felicidade”.

 

Além disso, afirma que as experiências da infância têm um peso enorme, em particular o afeto parental: “crianças malcuidadas, cujos pais só oferecem cuidado e atenção de forma esporádica, transformam-se em adultos com dificuldades para desenvolver relacionamentos íntimos duradouros”. Traumas na cabeça não devem ser subestimados: “uma concussão quando criança aumenta de duas a quatro vezes as chances de desenvolver demência em idade avançada”.

O autor enfatiza o papel da atividade física e das interações sociais, “uma das coisas mais complexas que podemos fazer com o cérebro”. E aconselha deixar de lado os ressentimentos, grandes e pequenos, incorporando uma frase do ex-senador norte-americano Alan Simpson, de 88 anos: “O ódio corrói o recipiente em que é armazenado”.

Já tratei diversas vezes da importância do sono e o capítulo sobre o tema me interessou profundamente. Levitin diz que descobertas recentes sobre mudanças nas ondas cerebrais e na química do sono sugerem uma abordagem diferente dessa atividade humana fundamental:

 “A privação de sono faz mal em qualquer idade. Talvez você tenha lido que ‘gente de idade’ não precisa dormir tanto quanto os jovens e que bastam umas quatro ou cinco horas de sono por noite. Esse mito foi recentemente desmascarado por Matthew Walker na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Não é que precisemos de menos horas de sono ao envelhecer — é que as mudanças no cérebro decorrentes do envelhecimento dificultam que os mais idosos durmam o quanto precisam”.

Sem medo de polemizar, aborda a possibilidade do uso, num futuro próximo, dos potencializadores cognitivos farmacêuticos, desenvolvidos por neuroquímicos para restaurar funções perdidas em pessoas com deficiência cognitiva, provocadas por doença ou lesão: “um em cada seis adultos com mais de 60 tem deficiência cognitiva branda. Tratamos toda uma gama de afecções em indivíduos desse grupo, de pressão arterial alta a colesterol elevado e gastrite. Por que não tratar o cérebro?”.

Para encerrar, segue o decálogo do neurocientista para envelhecer bem:

  1. Não se aposente. Não deixe de se engajar em um trabalho significativo.
    2. Olhe para a frente. Não olhe para trás (recordar não promove saúde).
    3. Exercite-se. Acelere o ritmo cardíaco. De preferência na natureza.
    4. Adote um estilo de vida moderado, com práticas saudáveis.
    5. Cultive um círculo social vibrante e cheio de novidades.
    6. Conviva com pessoas mais jovens que você.
    7. Visite o médico com regularidade, mas não de forma obsessiva.
    8. Não se considere velho (a não ser para adotar precauções prudentes).
    9. Aprecie suas forças cognitivas: padrões de reconhecimento, inteligência cristalizada, sabedoria, conhecimento acumulado.
    10. Promova a saúde cognitiva através de aprendizado experimental: viajando, convivendo com os netos, imergindo em atividades e

    situações. Faça coisas novas.

    G1