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Desde que a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi brutalmente assassinada na última quarta-feira, uma série de informações falsas sobre ela invadiram as redes sociais. O deputado estadual Marcelo Freixo, do mesmo partido, amigo de Marielle, classificou as fake news como um “duplo homicídio”.

Uma corrente de Whatsapp reproduzida pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Marilia Castro Neves e um tweet do deputado federal Alberto Fraga (DEM-RJ) replicaram o boato de que Marielle foi casada com um traficante e tinha associação com o crime: nada disso é verdade.

Ex-mulher de Marcinho VP – FALSO

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A vereadora nunca foi casada com o ex-traficante. Uma imagem distribuída nas redes (foto acima) afirmando ser de Marielle e Marcinho VP não retrata nenhum dos dois. Divulgação de sua candidatura registrada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que Marielle é solteira.

Marielle defendia traficantes – FALSO

Em ato de registro de sua candidatura, Marielle também apresentou certidão da Justiça Federal no Rio de Janeiro certificando que nada constava contra ela. Amigos e familiares também negam e repudiam a tentativa de associá-la ao tráfico de drogas. Em uma rede social, a sobrinha de Marielle, Annie Caroline, fez um apelo: por favor, não compartilhe áudios de outras pessoas dizendo que é minha tia. Por favor, não diga que ela era envolvida com o Comando Vermelho. E, essencialmente, não vá nas postagens da minha prima dizer que ela é filha do Marcinho VP e que minha tia engravidou aos 16. Isso foi o cúmulo pra perceber o quanto as pessoas são insensíveis com a dor de uma filha.”

Reportagem do G1 publicada neste sábado mostrou que Marielle ajudou na apuração da morte do policial civil Eduardo Oliveira em 2012. À época, ela era assessora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e lotada no gabinete do deputado Marcelo Freixo (PSOL).

“A Marielle foi imbatível, foi muito importante no caso do meu filho […] “Tenho pena por escreverem esse absurdo. Deveriam orar mais para que não aconteçam com elas. É triste ver o que a pessoa fez por outras e não ter reconhecimento. ‘Ah porque não fez para X, Y, Z’. Ela fez por muita gente, para família de policiais. Porque eu sou de família de policial. Fico muito triste com o que escrevem, não era nem para levar a sério”, disse Rose Vieira, mãe do policial.

Eleita e bancada pelo Comando Vermelho – FALSO

O Complexo da Maré, onde Marielle se criou, é dominado por duas facções criminosas rivais: o Comando Vermelho, e o Terceiro Comando Puro. Marielle mantinha laços sobretudo na Baixa do Sapateiro, no Morro do Timbau e no Conjunto Esperança, onde passou sua infância, juventude e vida adulta, onde o domínio sequer pertence ao Comando Vermelho.

Marielle foi eleita vereadora com 46,5 mil votos, dentre os quais apenas 1,6 mil de eleitores da Maré e arredores. O Complexo tem mais de 130 mil habitantes, segundo Censo de 2010.

Um mapa mostrou que ela conseguiu parte expressiva de seus votos na eleição de 2016 em bairros nobres do Rio de Janeiro.

A zona eleitoral em que ela teve a maior quantidade de votos foi a que reúne Cosme Velho e Laranjeiras, na zona sul da cidade. As dez zonas em que ela se saiu melhor incluem ainda Botafogo/Flamengo e Gávea/Leblon, redutos de classe média-alta.

Além disso, as bandeiras defendidas por Marielle eram justamente pelo fim da violência perpetrada pelo tráfico e pelas incursões policiais na região.

Dados disponíveis no TSE mostram que a campanha à vereadora de Marielle arrecadou pouco mais de R$ 92 mil, sendo que 23% do valor veio da Direção Municipal e Estadual do PSOL, 8% de doação da campanha à prefeitura de Marcelo Freixo e 3% de recursos da própria.

O restante foi financiado por 48 pessoas físicas, entre elas professores, pesquisadores, um advogado e dois funcionários estaduais. Nenhum deles é ou foi parte de nenhum processo judicial criminal.