Donos de uma extraordinária audição e uma complexa capacidade comunicativa, os golfinhos conversam entre si através de assobios, e se baseiam nos sons para guiar os caminhos pelos mares: um novo estudo realizado por pesquisadores do Dolphin Research Center demonstrou o quanto a poluição sonora humana, no entanto, vem atrapalhando a comunicação acústica desses animais. Publicado na revista Current Biology, o trabalho concluiu que os golfinhos estão tendo de assobiar cada vez mais alto para superarem o barulho ao redor.

 

O estudo contou com a participação de pesquisadores de instituições como a Universidade de Bristol, no Reino Unido, e acompanhou as “conversas” entre Delta e Reese, dois animais que vivem no Centro de Pesquisa de Golfinhos, nos EUA, a partir de uma atividade na qual são especialistas. A dupla foi ensinada a nadar até pontos do tanque para apertar botões ao mesmo tempo e, para realizar a coreografia, os golfinhos se comunicam por assobios – de acordo com o resultado, porém, o excesso de ruído prejudicou tal comunicação.

Mais do que simplesmente atrapalhar uma brincadeira, o barulho pode afetar até mesmo a sobrevivência desses mamíferos em ambiente selvagem: capazes de escutar ondas sonoras entre 75 e 150 mil Hertz, em espectro até sete vezes maior que o humano, a coordenação coletiva que os permite encontrar uns aos outros, se comunicar e até mesmo se proteger pode ser prejudicada por barulhos como de navios, de operações militares, explorações de petróleo e gás e outras atividades humanas realizadas no mar.

Para determinar tal impacto, os pesquisadores realizaram mais de 200 experimentos com Delta e Reese no Dolphin Research Center, reproduzindo sonoridades e frequências através de alto-falantes subaquáticos posicionados no tanque. De acordo com o estudo, o ruído fez com que os animais assobiassem mais alto, como se estivessem “gritando” para conseguir se comunicar, assim como virar mais o corpo para se localizar corretamente, e teve o desempenho reduzido consideravelmente durante a atividade.

Segundo consta, os animais apertaram os botões 20% menos vezes, especialmente diante de quadros mais extremos de poluição sonora. “Este é o primeiro estudo a demonstrar em uma espécie não-humana como o barulho prejudica a comunicação entre membros da mesma espécie na realização de uma tarefa cooperativa. A cooperação facilita funções vitais, e nossas descobertas sublinham a necessidade de levarmos em consideração o impacto da perturbação em importantes atividades grupais em populações selvagens”, diz o estudo.

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