Mães contam como é criar um um filho autista e falam como é doloroso enfrentar o (inacreditável mas real) preconceito da sociedade

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Do Jornal de Itápolis- Marli Ribeiro Camargo é mãe de Felipe, de 11 anos. Ele é lindo, inteligente, carinhoso, brincalhão e autista. Olhando é dificil imaginar, já que a sindrome não apresenta traços físicos. Tanto que a família só foi descobrir quando Felipe ia completar 3 anos “Eu percebia que ele era diferente das outras crianças, mas não sabia dizer o que era diferente nele. Mas a mania de ficar rodando a tampa da panela, a roda do carrinho, me deixavam intrigada. E ele estava sempre sozinho, não se enturmava”, conta Marli, que diz que passou por vários médicos até descobrir o diagnóstico.

“Quando me disseram que ele era autista, fiquei sem chão. A gente nem sabia o que era isso e como lidar com isso”. 

Assim como Marli, Rafaela Moraes, mãe de Rafael, 3 anos, conta que levou um choque quando ouviu o diagnóstico. Ela descobriu recentemente que o filho é autista. “Na hora chorei muito. Todo mundo chorou. Tive medo de não saber o que fazer, de não saber se poderia lidar com a situação. Eu nem sabia o que era autismo”.
Assim como Marli e Rafaela, a maioria das pessoas só procura se informar sobre o autismo quando tem alguém com a síndrome na família.
E não são poucas. O autismo é uma síndrome que, atualmente, afeta uma em cada 68 pessoas no mundo. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 70 milhões de pessoas no mundo são autistas e muitas passam a vida sem saber, já que a síndrome se desenvolve de diversas maneiras e em alguns casos, passa por uma timidez excessiva ou o portador é rotulado como ‘antisocial’.
Justamente por isso a ONU estipulou o dia 2 de abril como Dia Mundial da Conscientização do Autismo. A data serve para ajudar a conscientizar a população mundial sobre o Autismo.
O sintoma mais prevalente é o que se classifica como “ausência”, quando a criança parece viver num mundo particular.
“As vezes eu chamo o Felipe e ele nem dá sinal, não esboça nenhum tipo de reação. Não que ele não esteja me ouvindo, porque sei que está. Ele simplesmente não responde”; conta Marli.

“Hoje eu me acostumei a lidar com o Felipe. Sei que ele tem que ter a rotina dele, que é muito importante no caso do autista e tem que ter muita paciência. Aliás, tem que ter o dobro, o triplo de paciência. Eles não falam e você tem que adivinhar o que está querendo. E a gente entende. Entende eles pelo olhar. O olhar dele me diz o que ele está sentindo.... Mas dependendo a gente demora um pouco pra entender o que ele quer e ele começa a ficar nervoso e a gente vai ficando nervosa porque não consegue entender, ai ele começa a gritar e começa toda aquela situação difícil”.
A criança autista apresenta preocupação circunscrita a um interesse especial, fica dependente de rotinas de forma compulsiva, se preocupa excessivamente com partes de objetos, como um brinquedo desmontado, e tem estereotipias motoras, como movimentos específicos, como andar de um lado para o outro ou em volta de alguma coisa.
Rafaela conta que é difícil levar a criança autista em festas ou locais barulhentos, pois ela se assusta com um ruido mais alto. “A gente leva o Rafael passear mas eu vou ciente de que não vou comer, não vou beber, não vou fazer nada. Vou sabendo que ficarei correndo o tempo todo atrás dele. Mas eu levo. Porque sei que ele tem que se socializar. E aqui na APAE eles me ajudaram muito a entender isso e estão ajudando ele a se socializar”.

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Marli conta que também enfrenta esse tipo de dificuldade. E outras maiores. Mas que a mais difícil é o preconceito e a falta de compreensão das pessoas “O Felipe adora embalagem. As vezes no mercado ele dá show porque quer abrir as embalagens. Mas não é uma, nem duas. São todas. Claro que não vou deixar. Ai ele dá um show. Mas não é que ele seja mimado. É tipico do autista. Ele não consegue entender que não pode. Ai as pessoas passam e ficam comentando: ‘Nossa, que criança mal educada. A mãe devia bater’. Como eu já cansei de ouvir esse tipo de comentário, hoje eu simplesmente olho para a pessoa e falo: “Ele é autista”.

Marli conta que, o que mais dói, é o preconceito. “Uma vez estávamos em uma festa e uma criança falou para não brincarem com ele porque ele não falava. Dói. É melhor levar um tapa na cara do que ouvir isso de seu filho”.
Com certeza Marli tem razão. Quem é mãe sabe que a dor do filho dói muito mais em nós. Mas geralmente criança não tem preconceito se for instruída moralmente pela família. Então, cabe aos adultos mostrarem as crianças que as diferenças também são normais.
Para Rafaela, muitas vezes o preconceito está dentro da própria família. “Quantas vezes já ouvi: “Tadinho né!”. Eles rotulam meu filho de coitadinho. Mas coitadinho por que? Ele tem saúde, é inteligente. Isso é uma forma velada de preconceito”
Na verdade, o autista está longe de ser ‘coitado’. Alguns dos maiores gênios da história foram autistas, como os físicos Isaac Newton e Albert Einstein, o naturalista Charles Darwin e o pintor renascentista Michelangelo. Recentemente, foi divulgado que Messi, considerado o melhor jogador do mundo e o maior gênio do futebol da atualidade, também possui a Síndrome de Asperger, uma das variantes do autismo.

Vilma Seravo, coordenadora pedagógica da APAE de Itápolis, diz que para a família é sempre difícil receber a notícia de que tem um filho especial. “Mas é importante que, assim que perceba algo diferente na criança, a família nos procure. Temos profissionais especializados, temos o Paulo, que é psicólogo e fica a disposição para conversar e dar apoio psicológico à familia, temos profissionais especializados para atender as crianças e os familiares. E, o que sempre digo para os pais: Não tenham medo. A criança vai crescer, vai se desenvolver, vai ter uma vida social como qualquer outra. Apenas vai necessitar de uma aprendizagem especial, algumas vezes atendimentos especializados. Vai requerer mais cuidados, mas vai conviver socialmente como outra qualquer”