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O ex-investigador da Polícia Civil Ricardo José Guimarães (Foto: Reprodução/EPTV)

O ex-policial civil Ricardo José Guimarães foi condenado na madrugada desta quinta-feira (22) a 56 anos de prisão em regime fechado pela morte da dona de casa Tatiana Assuzena, de 24 anos, em março de 2004, em Ribeirão Preto (SP).

Acusados de participação no crime, o ex-investigador Rodrigo Cansian de Freitas foi condenado a 35 anos de prisão e a namorada dele, Karina Modesto Grigolato, a 32 anos de reclusão. Ambos respondiam ao processo em liberdade, mas a Justiça determinou que fossem presos.

O casal foi preso ao final do julgamento e levado para exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) na manhã desta quinta-feira. Freitas será encaminhado à penitenciária em Tremembé (SP) e Karina à cadeia feminina de Franca (SP).

Guimarães foi acusado de atirar no peito da vítima, quando ela tentava evitar que o noivo, Almir Rogério da Silva, fosse baleado, dentro da residência do casal, no Jardim Independência.

Segundo o Ministério Público, Silva passou a ser alvo de uma conspiração, após rejeitar Karina, que mantinha um relacionamento amoroso com Freitas e instigou o namorado a tramar o assassinato por vingança.

Ainda de acordo com a Promotoria, Freitas "encomendou" o assassinato a Guimarães, que já era conhecido na época por liderar um grupo de extermínio em Ribeirão Preto.

O advogado Rodrigo José Lara, que representa Karina, disse que vai recorrer da decisão. Lara explicou que será descontada da pena o período que Karina já permaneceu presa e afirmou que a cliente tem direito à progressão.

Já o advogado Rogério Luis Adolfo Cury, que defende Freitas, disse que os jurados julgaram contra as provas dos autos e também vai recorrer da pena aplicada.

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Segundo a acusação, Almir Rogério da Silva era o alvo do ex-policial na noite do crime em Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV)

 

Julgamento
O júri no Fórum de Ribeirão Preto durou 16 horas. Freitas e Karina obtiveram um habeas corpus durante o processo que possibilitou a eles a liberdade próvisória até o julgamento. Preso há 11 anos em Tremembé (SP), Guimarães foi escoltado até o prédio e entrou por um acesso exclusivo.

Primeira testemunha a falar aos sete jurados, Almir Rogério da Silva disse ao júri que a noiva nunca esteve na mira dos acusados. Silva afirmou que Karina foi a “cabeça” do crime, uma vez que se sentiu rejeitada depois que ele começou a namorar Tatiana e se afastou.

“Karina não era a favor do meu relacionamento com a Tati. Eu só tinha amizade com a Karina. Ela me apresentou a Tatiana. Eu gostei da Tatiana, namoramos e ficamos noivos. Eu acho que ela não gostou que o negócio estava indo sério e começou a fazer insinuações pra tentar nos separar. Ela não pensou direito e fez o que fez", disse.

Dias antes do crime, Silva disse que foi alertado por um amigo de que Cansian havia feito ameças contra ele.

"O Rodrigo havia comentado com um amigo em comum meu que ele ia me pegar, e que quem tivesse comigo ia rodar também. Foi o recado que ele tinha dado a mim uma noite anterior. Ele sempre citou meu nome, nunca citou a Tatiana", afirmou.

Segundo a Promotoria, na noite do crime, Guimarães invadiu a residência onde o casal morava, no bairro Campos Elíseos, e tinha Silva como alvo. Ao arrombar a porta, no entanto, Tatiana tentou bloqueá-lo e foi atingida por um disparo no peito.

O filho dela, de 7 anos, estava no quarto e viu a mãe ser morta. Silva conseguiu dominar o atirador até a chegada da Polícia Militar.

De acordo com o promotor José Gaspar Figueiredo Menna Barreto, o ex-policial apresentou duas versões para o crime. Na fase de inquérito, afirmou à Corregedoria que ele e Freitas procuravam um imóvel para alugar, às 4h, quando foram surpreendidos por Silva em uma tentativa de assalto.

Guimarães disse que perseguiu Silva até a casa, onde Tatiana acabou sendo atingida. Já em juízo, ele declarou ter ido à residência, após tomar conhecimento de que estava sendo apontado como autor de assassinatos praticados por Silva, que seria membro de uma facção criminosa.

“A prova é cabal na participação dele. Aliás, o Guimarães foi preso em flagrante e no momento ele portava a arma ponto 40 do Rodrigo. Nas horas vagas ele fazia gentilezas para os amigos que tinham desafetos, matando esses desafetos”, afirmou o promotor.

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Tatiana Assuzena morreu com um tiro no peito aos 24 anos, em Ribeirão Preto, SP (Foto: Reprodução/EPTV)


Outras condenações
Em julho de 2017, após dois dias de julgamento, a Justiça de Ribeirão Preto condenou o Ricardo José Guimarães pelas mortes de Anderson Luiz de Souza e Enock de Oliveira Moura, em maio de 1996.

Ele foi condenado a 72 anos de prisão em regime fechado por homicídio duplamente qualificado e com agravantes por meios que dificultaram a defesa das vítimas.

Segundo a acusação, os crimes ocorreram quando Guimarães chefiava um grupo de extermínio, que atuou nas décadas de 1990 e 2000 em Ribeirão. Ele responde a processos por outras mortes e está preso desde 2007 em Tremembé.

A segunda condenação aconteceu em dezembro de 2017, quando Guimarães pegou 42 anos de prisão pelas mortes de dois policiais no Rio Grande do Sul, em julho de 2005.

Em Ribeirão, o ex-policial civil deve voltar ao júri popular pela morte de Thiago Xavier de Stefani, baleado com dois tiros na cabeça, no Jardim Independência, em 2003.

O julgamento estava marcado para outubro do ano passado, mas acabou adiado porque outro réu, acusado de executar os tiros, deve ser julgado primeiro ou ao mesmo tempo que ele, de acordo com as normas do Código de Processo Penal (CPP).

 

Do G1