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Consulta de José foi remarcada para janeiro em Ribeirão Preto (Foto: Reprodução / EPTV)

Funcionários da Prefeitura de Jaboticabal (SP) improvisaram um automóvel para realizar o transporte de um paciente acamado que está entubado e utilizando uma sonda para se alimentar. O fato ocorreu nesta segunda-feira (19) após a administração municipal afirmar que todas as ambulâncias da cidade teriam quebrado e revoltou familiares do homem, que perdeu uma consulta.

João Batista, de 59 anos, foi submetido a uma cirurgia no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto para retirar um coágulo do cérebro há quatro meses. Devido a complicações durante o procedimento, o paciente passou a viver em casa, numa maca, sob os cuidados da família.

“Ele tinha um coágulo no cérebro e foi para Ribeirão pra fazer essa retirada e foi quando deu essa complicação durante a cirurgia. Ele teve um AVC e desde então está acamado e precisa de cuidados. Ele faz uso da sonda porque ele precisa ter a dieta dele, coisa que a gente não tá ganhando e está saindo pelo nosso custeio. Ele tem traqueostomia, então a gente precisa estar aspirando ele o tempo inteiro e também faz uso de fralda. É um cuidado muito especial e básico e tudo é por nossa conta”, afirma a auxiliar de enfermagem Daniele Briza, que é nora do homem.

Nesta semana, ele faria o primeiro retorno ao médico desde que foi submetido à cirurgia. Familiares do homem afirmam que agendaram uma ambulância há cerca de um mês com a Prefeitura de Jaboticabal e o veículo deveria buscar o paciente na casa dele para transportá-lo até o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde ele possuía uma consulta agendada.

A filha de João entrou em contato com a administração municipal na sexta-feira para confirmar o serviço. Ao ser atendida, entretanto, ela foi informada que todas as ambulâncias se encontravam com problemas e o transporte do paciente seria efetuado por um veículo do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).


“Fomos lá com um mês de antecedência e nos foi passado que estavam com dificuldades, mas que conseguiriam, que na segunda-feira, 7h30 ele estaria lá. Quando foi na sexta-feira, não houve nenhum retorno e minha cunhada ligou para eles, que disseram que o Samu deveria ser acionado às 5h e que eles viriam e nos levariam pra lá [em Ribeirão Preto].

Só que quando a equipe do Samu chegou disse que não e que o procedimento estava totalmente errado e que não iriam levar porque eles atuam dentro da cidade e para levá-lo até outra região seria outro departamento”, explica Daniele.

Como o homem não estava bem e apresentava febre, os familiares de João pediram para que ele fosse encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da própria cidade. Eles afirmam que os próprios técnicos do Samu disseram que talvez ele conseguisse uma ambulância de emergência uma vez que chegasse no local.

“Levamos ele à UPA, onde os próprios técnicos do Samu disseram que talvez conseguissem uma ambulância. Ao chegar, ficamos esperando lá por horas e estourou o horário da consulta em Ribeirão Preto. Falei com o médico dele e ele disse que como não tinha como alguém levá-lo nós remarcamos pro dia 16 de janeiro”, explica.

Após conseguir remarcar a consulta de João, os familiares começaram a aguardar uma outra ambulância, dessa vez, para levar o homem de volta para casa. A nora do paciente conta que o Samu deveria fazer o transporte dele novamente, mas que haviam ocorrências que precisavam de atendimento urgente.

“Eu desci e fui até a secretaria de saúde, onde encontrei a ambulância parada e a equipe reunida tomando café, conversando e rindo enquanto o 'seo' João Batista estava lá precisando do serviço deles. Nisso eu entrei, discuti com o pessoal e o secretário me chamou pra conversar. Depois disso, chegou um carro preparado para levar o 'seo' João porque não tinha ambulância. Eles até comentaram que haviam feito uma vaquinha para ver se conseguiam pagar a manutenção entre os funcionários porque não tinha verba”, diz.

Durante o transporte, a nora do homem fez o vídeo. Ela diz ainda que o veículo pertence à Prefeitura de Jaboticabal, assim como o motorista, que também trabalha para a administração municipal. Ela conclui dizendo que não foi acompanhada de nenhum profissional de saúde da própria UPA.

“Foi o maior desrespeito, não havia um pingo de organização. Eu só tive a solidariedade dos enfermeiros de lá, que ajudaram a colocar o meu sogro dentro do carro. Eles improvisaram até um colchão lá dentro pra ele, mas foi o que teve. Ele perdeu a consulta, chorou muito, ficou nervoso. Foi um prejuízo para nós e emocionalmente para ele”, finaliza.

Prefeitura
O secretário de saúde de Jaboticabal afirma que o município cumpre seus agendamentos, mas explica que a situação vivida na segunda-feira foi algo ‘atípico’ e que o Samu deveria fazer o transporte do paciente até a cidade.

“Nós tínhamos os veículos dentro do nosso planejamento para as atividades, mas nosso coordenador de transportes nos passou que estava sem a ambulância específica para fazer esse transporte”, diz Mário Milaré.

Ele diz ainda que, ao contrário do que foi dito por Daniele, o automóvel usado para realizar o transporte de José não era improvisado, mas sim um veículo utilizado para casos que não requerem cuidados específicos ou oferecem riscos.

“Nós oferecemos um veículo para fazer o retorno até sua residência. Não era um veiculo improvisado, era um veículo também da secretária de saúde que nós usamos para fazer alguns transportes em alguns casos que não demanda tanto cuidado especificamente. Não oferecia risco e não foi nenhum profissional da saúde porque a própria filha falou que se tivesse um veículo para transportá-lo não haveria risco algum. Se não [fosse assim] a gente ia emprestar de alguma localidade mais próxima um veículo que pudesse fazer o transportar”, conclui.

Milaré afirma que o transporte do paciente será realizado normalmente no próximo dia 16 de janeiro, quando a consulta será realizada em Ribeirão Preto.