Do G1 - O padre Gustavo Trindade dos Santos passou a responder por homicídio qualificado, e não mais por tentativa de homicídio, contra Ângelo Marcos dos Santos Nogueira, atropelado após um suposto furto contra a casa paroquial de Santa Cruz do Rio Pardo (SP), no último dia 7 de maio.

 

O promotor responsável pediu o aditamento da queixa contra Gustavo após a morte de Ângelo, no dia 27 de julho, por complicações decorrentes do atropelamento, segundo laudo do Instituto Médico Legal (IML).

O juiz Pedro de Castro e Souza, da Vara Criminal de Santa Cruz do Rio Pardo, aceitou a mudança envolvendo a natureza do crime na quinta-feira (11) e sua decisão foi publicada nesta sexta-feira (12).

O crime é qualificado pela "utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima", e quem vai decidir sobre uma eventual condenação é o Tribunal do Júri em data a ser marcada no decorrer do processo.

O g1 entrou em contato com a defesa do padre para se manifestar sobre o aditamento da denúncia. "A defesa do Frei Gustavo se manifestará sobre os fatos, oportunamente, assim que ele for citado para responder a acusação, visando, assim, não tumultuar o bom andamento processual", disse seu advogado.

Ângelo Marcos dos Santos Nogueira estava internado na Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo e apresentava sequelas como perda de massa muscular, dificuldade para comunicação e necessidade de uso de fraldas.

 

Ele chegou a ser hospitalizado em outras ocasiões, inclusive em Ourinhos (SP), mas teve alta médica para tratamento domiciliar. Nas últimas semanas antes de sua morte, contudo, foi necessária uma nova internação.

Após o óbito, a diocese de Ourinhos informou, por meio de nota, que lamenta a morte e se solidariza com a família e amigos de Ângelo.

 

No dia 17 de junho, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o padre por tentativa de homicídio, qualificado pela "utilização de recurso que dificultou a defesa da vítima". A natureza do crime acaba de ser alterada no processo.

A qualificadora se configura, segundo o promotor Reginaldo Garcia, porque a vítima foi atingida sem que "pudesse supor ou esperar semelhante atitude", ou seja, de surpresa.

Com a morte de Ângelo, segundo o delegado Valdir de Oliveira, que investigou o caso, novas perícias foram realizadas para esclarecer se o óbito esteve diretamente relacionado com o atropelamento. Essa tese foi confirmada por um médico legista.

A Justiça já aceitou a denúncia da promotoria, o que torna o padre réu. Agora, foi determinada nova citação do acusado, que passou a declarar endereço em São Paulo.

Uma câmera de segurança flagrou o atropelamento na Avenida Tiradentes. Nas imagens, é possível ver o momento em que o carro atinge Ângelo, que é arremessado (veja acima).

Interrogatório

A TV TEM teve acesso, com exclusividade, ao vídeo do interrogatório, no qual o religioso dá a sua versão sobre o caso (veja abaixo).

O padre só foi ouvido no dia 9 de junho porque não compareceu à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez. Quatro dias depois, ele ainda participou de uma missa.

Mesmo assim, o inquérito policial foi concluído, mas o MP solicitou a oitiva do padre para poder avaliar melhor o caso. Durante o interrogatório, o padre afirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou um homem pulando o muro e fugindo do local.

 

O padre disse, na oitiva, que ele e a pessoa que o acompanhava no carro chegaram a pedir para o homem parar durante a perseguição. No entanto, as imagens que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante todo o trajeto.

Ainda conforme o frei, ele encontrou um caminho para fechar o homem, mas, quando ele entrou com o carro na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja se jogou sobre o capô do veículo.