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Pedaço de madeira com a inscrição 'diazepan' (sic) foi apreendido no local (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Uma clínica de tratamento para dependentes químicos foi fechada em Ribeirão Preto (SP) por suspeita de maus-tratos aos internos. Ao Ministério Público (MP), os pacientes relataram agressões físicas e más condições de alimentação. A Polícia Civil investiga as denúncias.


Ao Jornal da EPTV, o advogado Edson Nunes da Costa disse que a interdição foi arbitrária, uma vez que não as acusações não foram constatadas e provadas. Ainda segundo a defesa, o local possui toda a documentação necessária para funcionamento.

Um pedaço de madeira com a inscrição “diazepan” foi apreendido no local. Para o promotor Aroldo Costa Filho, o instrumento era usado em sessões de tortura e o texto faz referência ao medicamento de uso controlado, indicado para sedação.

Essa não é a primeira vez que a mesma clínica é interditada pela polícia. Em setembro de 2012, um dos proprietários chegou a ser preso por suspeita de cárcere privado, depois que cinco internos, entre eles um adolescente, foram encontrados trancados em um quarto.

Inspeção
O caso chegou até o MP após denúncia da advogada Maria Helena Costi, cujo irmão estava internado na clínica há dois meses. Ela contou que durante as visitas era impedida de ficar sozinha com o rapaz, até que um dos encontros conseguiu mais privacidade.

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A advogada Maria Helena Costi diz que irmão estava internado em clínica (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

“Os monitores ficavam ao lado e não deixavam a gente manter contato direto com os internos. Foi quando eu exigi falar com o meu irmão a sós e ele me contou o que estava acontecendo. Eles faziam de uma forma que a pessoa ficava coagida a falar”, afirmou.

A partir dessa conversa, Maria Helena soube que os pacientes estavam sendo torturados. Além disso, segundo a advogada, a alimentação oferecida é precária, bem diferente do que consta no contrato assim pelas famílias.

“Eles comiam restos de comida, praticamente alimentação sem nenhuma proteína. O que foi passado para a gente eram seis refeições por dia. Eles nunca entraram na piscina, ficavam simplesmente fechados, praticamente 15 horas por dia”, disse.

O relato é confirmado por um dos pacientes, de 42 anos, que prefere não ser identificado. O rapaz disse ter sido agredido com uma faca e também com pedaços de pau, como o que foi apreendido pelo MP nesta segunda-feira (19).

“Tem gente que foi agredida com cabo de vassoura. Eles batem, fazem a gentearrancar matinho, deixa pelado, amarrado. Eles batem e não pode falar que está batendo. Judiam muito, eles batem na cara dos outros com facão”, afirmou.

Outro interno que também pediu para não ser identificado afirmou que foi internado na clínica há sete meses devido à dependência alcoólica. O homem reclamou da alimentação servida e disse ter emagrecido dez quilos durante a internação.

“A alimentação era, na maioria dos dias, macarrão com salsicha. Era só isso só, não tinha carne. Eu fui maltratado, espancado, humilhado. Eu fui internado para me tratar, não para ser espancado, para servir de cobaia a ninguém”, reclamou.

Investigação
O promotor Aroldo Costa Filho explicou que a interdição da clínica foi possível após a Justiça expedir um mandado de busca e apreensão. O local abrigava 46 internos, que foram removidos para outras instituições ou retornaram às casas das famílias.

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Polícia Civil participou de operação que fechou clínica para dependentes químicos em Ribeirão Preto
(Foto: Carlos Trinca/EPTV)

Costa Filho afirmou que objetos usados para torturar os internos foram apreendidos, como barras de ferro, pedaços de madeira e um podão. Um dos funcionários foi levado à Central de Flagrantes e autuado por cárcere privado. A Polícia Civil assumirá a investigação do caso.

“O Ministério Público vai ingressar com um pedido para encerramento das atividades dessa clínica. Os proprietários serão investigados, e responsabilizados na área civil e criminal pela prática das irregularidades”, disse o promotor.

Fechamento arbitrário
O advogado Edson Nunes da Costa, que representa os donos da clínica, afirmou ao Jornal da EPTV que o fechamento foi arbitrário porque não foi constatado e provado qualquer ato de maus-tratos, e nenhum residente apresentava qualquer tipo de escoriação.

Sobre as suspeitas de que a alimentação servida aos pacientes era precária, Costa disse ser comum dependentes químicos questionarem a estrutura física do local de tratamento, assim como os serviços prestados, já que são internados involuntariamente a pedido dos pais.

Ainda segundo o advogado, também é comum aos pacientes dizerem inverdades devido à abstinência, com o intuito de saírem e voltarem a usar drogas. Costa destacou que a clínica possui um médico, dois psicólogos, dois enfermeiros, um nutricionista e um educador físico.

Por fim, a defesa ressaltou que a clínica possui toda a documentação necessária para funcionar, como alvarás emitidos pela Vigilância Sanitária e pela Prefeitura de Ribeirão. Costa disse que tomará as medidas cabíveis para que o serviço no local seja retomado.

 

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Interno mostra cicatrizes de agressões sofridas em clínica de Ribeirão Preto (Foto: Carlos Trinca/EPTV)

 

Do G1